quarta-feira, 2 de abril de 2014

No fundo somos a pergunta, a resposta e o porquê...

Flagrei uma família em Buenos Aires, na Rua Florida, cantando uma canção muito bonita do poeta uruguaio Mario Benedetti. Abaixo segue a letra traduzida. Adaptei alguns versos para facilitar o entendimento. 



POR QUÉ CANTAMOS
(Mario Benedetti)


Se cada hora vem com sua morte
Se o tempo é um covil de ladrões
Os ares já não são tão bons ares
E a vida é nada mais que um alvo móvel
 
Você perguntará por que cantamos

Se os nossos irmãos ficaram sem abraços
A pátria quase morta de tristeza
E o coração do homem foi quebrado 
Antes mesmo de explodir toda a vergonha


Você perguntará por que cantamos

Cantamos porque o rio esta soando
E quando o rio soa, soa o rio...
Cantamos porque o cruel já não tem nome
Embora tenha um só nome o seu destino
 
Cantamos pelas crianças e pelo todo
E por algum futuro e pelo povo
Cantamos porque os sobreviventes
E nossos mortos querem que cantemos

Se voamos longe... Mirando horizontes...
E não cresceram as árvores sonhadas
Se cada noite é sempre uma ausência
E cada despertar um desencontro

Você perguntará por que cantamos

Cantamos porque chove sobre as frestas
E somos militantes desta vida
E porque não podemos, nem queremos
Deixar que a canção se torne cinza 

Cantamos porque os gritos não são suficientes
Como já não são as lágrimas, nem a raiva
Cantamos porque cremos nessa gente
E porque venceremos a derrota
 
Cantamos porque o sol nos reconhece
E porque o campo cheira a primavera
E porque neste caule e naquele fruto
Cada pergunta tem a sua resposta. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário